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Dunga por Reinaldo Polito

Dunga

Na vida, você pode perder ou ganhar. Além da competência e do preparo, há diversos fatores que precisam ser considerados, como sorte, acaso, coincidência etc. Na política, por exemplo, quantos vices que não teriam a mínima chance de ocupar a cadeira de presidente ou de governador acabaram chegando lá. Só para relembrar, podemos citar os casos de Sarney com a morte de Tancredo, Itamar com o impeachment de Collor e de Alckmin com a morte de Covas.

No esporte, a presença dos aspectos fortuitos é ainda mais gritante. Na Copa do Mundo, por exemplo, quando existe diferença técnica acentuada entre os times, dificilmente a sorte e o acaso poderão interferir. Nos jogos entre seleções com o mesmo peso, entretanto, o detalhe inesperado faz a diferença. Por isso é um jogo que precisa ser jogado. Caso contrário bastaria entregar a taça àquele considerado melhor.

Lembra do jogo entre Brasil e Inglaterra na copa de 2002? Aquele timaço do Felipão também talvez tivesse ficado nas quartas de final se não fosse o gol de falta do Ronaldinho do meio da rua–acho que a mais de 40 metros. Se ele chutar mil bolas como aquela não vai repetir o gol. E assim tantos outros lances casuais que mudaram a história das Copas.

Fiz todo esse preâmbulo para dizer que Dunga é meu ídolo! Fazer uma afirmação como essa hoje, depois de o Brasil ter saído tão cedo da Copa do Mundo, parece heresia. Afinal, Dunga virou saco de pancada preferido da maioria. Burro, incompetente, despreparado, grosseiro são alguns dos adjetivos mais comuns ouvidos nos botecos, salas de aula e programas esportivos do rádio ou televisão.

Em sala de aula e nas palestras, tenho tido o topete de dar minha opinião que contraria o sentimento geral. É uma loucura, só falta jogarem tomate na minha cabeça. Começam com um “você não está falando sério”, até terminar com semblantes contrariados. Meu consolo é que alguns na aula seguinte dizem que refletiram melhor e até acham que tenho razão em certos pontos.

Bem, você deve estar curioso para saber por que defendo uma ideia tão antipática. É uma questão de coerência para o que sempre defendi na vida –seriedade, trabalho e competência. Gosto de gente focada em suas tarefas e comprometida com resultados.

Um dia antes do jogo do Brasil com a Holanda, Dunga tinha 70% de aprovação do povo brasileiro (Datafolha). O time canarinho fez um primeiro tempo mágico, excepcional, digno de constar em livro. Por pouco não fez o segundo e o terceiro gols. Foi um passeio no time holandês.

No segundo tempo, de um lance fortuito, uma fatalidade, de uma jogada que enganou o melhor goleiro do mundo e bateu na cabeça do defensor, saiu o gol de empate e desestabilizou o time. Quero ver quem não ficaria atordoado com um gol daqueles. Pouco depois saiu o segundo gol, também de cabeça. Ironia do destino, pois esse era um dos melhores fundamentos da nossa excelente seleção.

Perdemos. Coisa de futebol. Como eu disse, entre times de qualidade semelhante o resultado fica por conta de detalhes inesperados. Os críticos, principalmente parte da imprensa raivosa, espinafraram o técnico. Se tivéssemos vencido, o que seria natural, estariam todos agora enaltecendo os princípios adotados por Dunga.

Uma jogada infeliz e a “farândola ignóbil”, como diria o príncipe dos advogados Waldir Troncoso Perez, coloca os demônios para fora tentando encontrar um culpado. O que me deixa atônito é o fato de alguns jogadores e jornalistas que vivem há décadas no meio futebolístico reagirem emocionalmente como se os resultados tivessem de ser matemáticos.

Certas pessoas dizem que faltou liderança ao técnico. Pergunte ao Júlio César, Kaká, Lúcio se eles não gostam do Dunga. Todos o elogiam. Não acredito que alguém possa dizer que esses jogadores sejam mentirosos, inexperientes, incompetentes, levianos. Se conviveram com Dunga durante todo esse tempo, acatando suas orientações, e o admiram algum motivo existe.

Sei que pode parecer delírio, mas eu permaneceria com o mesmo técnico e a mesma filosofia de trabalho para a Copa de 2014 aqui no Brasil. Assim como acontece com os clubes, quando não ganham, o primeiro a ser sacrificado é o técnico. Só para recordar: depois da derrota do Brasil em Copas passadas caíram de pau em cima do Feola, Zagalo, Lazaroni, Parreira, Cláudio Coutinho. Não sobrou um. Com Dunga não seria diferente.

Ah, e se o goleiro Casillas da Espanha não tira com a pontinha do pé aquela bola que já estava entrando, chutada cara a cara pelo atacante holandês, a história da copa de 2010 seria outra. Pois é, são os detalhes que mudam o rumo dos jogos entre seleções com qualidade técnica parecida.

Agora vamos esquecer os jogos da Copa e começar a conviver com os embates políticos. Muito mais sérios e importantes que um jogo de futebol. Por incrível que pareça, também nesse caso, os detalhes poderão ser responsáveis pela vitória ou derrota do candidato.

Uma frase mal formulada, uma reação inesperada, uma afirmação infeliz poderá determinar o resultado das eleições e fazer com que o eleito seja o responsável pelos destinos da nossa nação por quatro ou oito anos. Que vença o melhor para o Brasil.

Bem, que venham os e-mails para comentar. A liberdade de opinião começa por aí.

SUPERDICAS DA SEMANA

- Esteja preparado sempre, mas saiba que alguns detalhes podem fugir do controle
- Faça o melhor que puder agora para ser forte na adversidade
- Na vida nem sempre vencemos, mas a retidão de caráter e de princípios nos protegerá
- Mesmo com a certeza da vitória, esteja preparado para a derrota que parecia impossível



Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação, Palestrante, Professor de Expressão Verbal e Escritor. Escreveu 15 livros com mais de um milhão de exemplares vendidos. Seu sitewww.polito.com.br

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