Uma ioguina indiana, DADI JANKI, de 86 anos, foi considerada
pelo Instituto de Pesquisa Médica e Cientifica da Universidade do Texas,
como a "mente mais estável do mundo", porque mesmo testada em
situações tensas e perigosas, seu eletroencefalograma marcou a presença
constante de ondas delta, as ondas mais positivas e lentas produzidas pela
atividade cerebral. Ela recebeu da ONU o título, muito raro de ser
concedido, de Guardiã do Planeta, por seu
trabalho em prol de mentes mais
livres e pacíficas.
Quando lhe perguntaram, em sua
visita a São Paulo, a receita de uma mente tão tranquila e sem pesos, ela
respondeu:
"Muito amor no coração por todos
e nenhum apego por ninguém, tentar não prejudicar pessoa alguma minimamente
e eliminar da mente qualquer pensamento negativo, fazendo um exercício
diário e ter a certeza de que não estamos aqui à-toa, mas para cumprir o
destino da evolução. Que somos caminhantes, sem dependências ou estabilidades.
Quem não percebe isso se torna escravo do desnecessário e polui a
mente".
Em 1978, Dadi Janki foi submetida a
um teste na Universidade do Texas, nos Estados Unidos, quando então se
tornou conhecida como "a mente mais estável do mundo" (suas ondas
cerebrais não se alteram mesmo em situações extremas).
"A maravilha é que, mesmo não
entendendo inglês, consegui dar as respostas certas", diz.
Hoje, aos 86 anos, 60 deles
dedicados ao estudo espiritual e à prática da meditação, Dadi é só tranquilidade
e paz. Co-diretora mundial da Brahma Kumaris - universidade
espiritual com sede na Índia e mais de 5 mil centros pelo mundo -,
integrante do grupo Guardiões da Sabedoria e criadora da Fundação Janki de Pesquisas
para Saúde Global, em Londres, ela nos recebeu vestindo branco por dentro e por fora,
sem solenidades, sem as vaidades comuns à maioria das mulheres. Seu
discurso encanta pela pureza e ensina que
as mudanças possíveis ao mundo começam no coração
de cada pessoa.
- Por que tanta gente está buscando uma vida
simples?
- Vivemos com muitas demandas de
consumo. Eu quero isto, eu quero aquilo, aquilo outro e assim por diante. E
todo mundo tem muitas demandas e expectativas.
Se vivemos ao sabor das demandas
externas, tudo o que conseguimos ver em termos de reconhecimento da
personalidade humana é o que aparece na superfície, o que é artificial. E
vida simples significa vida real.
Algumas pessoas pensam que a necessidade da vida é possuir coisas, quando,
na verdade, o que realmente importa é possuir valores espirituais.
Portanto, quando reafirmamos nossa vida em propósitos de paz, felicidade e
amor, caminhamos para a felicidade verdadeira.
A conquista de uma vida simples
permite que a espiritualidade se desenvolva facilmente. E espiritualidade
significa eu usar o meu tempo, o meu dinheiro e a minha energia no caminho
do bem.
- E de que maneira podemos seguir
esse caminho na prática, levando em conta as dificuldades do dia-a-dia?
- Existem três aspectos importantes
para o entendimento do que proponho aqui, do que estamos levando adiante
com o conhecimento. O primeiro passo é empreender a busca, porque quando
faço isso reconheço os territórios internos, em termos de qualidade dos pensamentos,
e entendo o que pode ser feito para mudar. Segundo, tenho de conhecer a
Deus, ser capaz de ter um relacionamento com o divino, de maneira a estar
pronto para receber de Deus o tesouro da paz.
Terceiro, eu também preciso entender os movimentos de calma e de ação,
assim como o curso e os efeitos de minhas ações. Se eu puder entender essas
três coisas, então certamente terei paz verdadeira.
- A senhora vive com pouco?
- Posso viver muito bem com três
conjuntos de roupas: uma para tudo, outra para alternar na lavagem, uma
terceira guardada. Às vezes, quando visito alguém, as pessoas me chamam
para mostrar o número de roupas que elas tem, a quantidade de sapatos, as
joias. Eu sinto compaixão por elas, porque seu intelecto certamente está
disperso. Todos esses apelos externos nos distraem do real propósito da
vida.
- Essa desconexão com o real complica
também nossos relacionamentos?
- Sim, as demandas externas distanciam as pessoas do que entendemos como
qualidade em um relacionamento. É o que deteriora a família, as amizades, e
consagra o egoísmo no lugar da verdade. Quando, enfim, complicamos muito a
vida, fica difícil tomarmos conta de nós mesmos e, mais ainda, não há como
cuidar devidamente de nossos relacionamentos.
Bem, eu posso mostrar, com a minha vida, de que maneira é possível alcançar
a felicidade e, assim, os outros têm uma referência de como conseguir isso
também. Com uma vida simples, posso dar atenção aos outros, cooperar com os
outros, porque quando meu coração é honesto, ele se torna grande, generoso.
- É possível manter-se centrado mesmo
com o turbilhão de informações produzido por jornais, revistas e televisão?
- Eu prefiro viver longe desse fluxo.
Porque se sabe, isso acaba virando um vício. As pessoas acreditam que,
lendo jornais ou assistindo TV, estejam apenas buscando informações sobre o
que acontece no mundo. Mas, na verdade, tudo isso produz uma grande
quantidade de distrações.
O cinema, da mesma forma, difunde muitos e muitos maus hábitos. Assim, fica
muito difícil, por exemplo, manter uma vida mais contemplativa, pautada na
prática da meditação. A natureza humana é muito suscetível.
Somos frequentemente afetados pelo
mal. E quase sempre a influência do mal ocorre de maneira muito rápida.
Se eu, de fato, quiser me tornar um
ser humano em sua plenitude, se esse é meu propósito, devo procurar
caminhos diferentes, que não me façam perder tempo e energia. Ideias assim
são sempre muito inspiradoras. Mas parece um tanto difícil conseguir isso.
A verdade é que há muitos males no
mundo de hoje e creio que é mesmo hora de pararmos com isso. Eu tenho o
alegre objetivo de, primeiro, fazer da minha vida uma boa vida e manter a
mim mesma livre de todas as influências de negatividade do mundo. E há
muitas pessoas criando uma vida boa como esta.
Gente do mundo todo está reconhecendo
que é por meio da espiritualidade que se pode alcançar uma vida plena.
- Vivemos tempos um tanto incertos.
Podemos acreditar num bom destino para a humanidade?
- Sim, eu acredito que o futuro será
bom. Há pessoas buscando uma vida sensata, uma vida simples, e elas
servirão de inspiração para os outros, em favor do mundo. E tudo o que é
exigido é uma transformação interna, de maneira que possamos ter bons
sentimentos, sem nos colocarmos negativamente contra quem quer que seja.
Basta que não tenhamos maus sentimentos, que exercitemos a aceitação dos
outros, disseminando paz e felicidade.
- É preciso tornar-se um iogue para
incorporar essa atitude?
- Não necessariamente. Todos aqueles
que, através da observação contínua de si mesmos, e através da meditação,
experienciam um relacionamento autêntico com Deus, podem se tornar as
estrelas brilhantes que iluminam o mundo.
Eu acredito que se todos seguirmos
juntos assim, poderemos criar o céu aqui na Terra. Mas, primeiro, teremos
de criar o céu em nossas mentes. Porque tudo o que acontece neste mundo
começa antes no coração dos homens.
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