Nada escapou ao olhar
detalhista de Drummond em suas crônicas. Custo de vida? Tem. Escola de samba,
carnaval e futebol? Tem. Viagem à lua, briga de vizinho, guerra, paz,
brotinho de miniblusa e velhinho de bengala? Tudo isso também tem.
Praticamente, não há tema do dia-a-dia que não tenha freqüentado as crônicas
do poeta.
Aqui, ele trabalha com o tema do bebê de proveta, do ser humano feito em laboratório. A crônica em versos "O Novo Homem" foi publicada no Jornal do Brasil em 17/12/1967 — portanto, 35 anos atrás. A genética nem estava tão avançada assim e Drummond já discutia e ironizava a idéia do ser humano "fabricado", com bebês à la carte, escolhidos num catálogo. O NOVO HOMEM
O homem será feito
em laboratório. Será tão perfeito como no antigório. Rirá como gente, beberá cerveja deliciadamente. Caçará narceja e bicho do mato. Jogará no bicho, tirará retrato com o maior capricho. Usará bermuda e gola roulée. Queimará arruda indo ao canjerê, e do não-objeto fará escultura. Será neoconcreto se houver censura. Ganhará dinheiro e muitos diplomas, fino cavalheiro em noventa idiomas. Chegará a Marte em seu cavalinho de ir a toda parte mesmo sem caminho. O homem será feito em laboratório, muito mais perfeito do que no antigório. Dispensa-se amor, ternura ou desejo. Seja como flor (até num bocejo) salta da retorta um senhor garoto. Vai abrindo a porta com riso maroto: "Nove meses, eu? Nem nove minutos." Quem já conheceu melhores produtos? A dor não preside sua gestação. Seu nascer elide o sonho e a aflição. Nascerá bonito? Corpo bem talhado? Claro: não é mito, é planificado. Nele, tudo exato, medido, bem-posto: o justo formato, o standard do rosto. Duzentos modelos, todos atraentes. (Escolher, ao vê-los, nossos descendentes.) Quer um sábio? Peça. Ministro? Encomende. Uma ficha impressa a todos atende. Perdão: acabou-se a época dos pais. Quem comia doce já não come mais. Não chame de filho este ser diverso que pisa o ladrilho de outro universo. Sua independência é total: sem marca de família, vence a lei do patriarca. Liberto da herança de sangue ou de afeto, desconhece a aliança de avô com seu neto. Pai: macromolécula; mãe: tubo de ensaio e, per omnia secula, livre, papagaio, sem memória e sexo, feliz, por que não? pois rompeu o nexo da velha Criação, eis que o homem feito em laboratório sem qualquer defeito como no antigório, acabou com o Homem. Bem feito. |
|
Drummond: 100 anos
Carlos Machado, 2002
Carlos Drummond de Andrade
In Caminhos de João Brandão (publicado originalmente no JB, 17/12/1967) José Olympio, 1970 © Graña Drummond |
O NOVO HOMEM
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Por que dizer não à medicalização da Educação
Por que dizer não à
medicalização da Educação
Pediatras
americanos afirmam que a solução para o baixo rendimento escolar e a
indisciplina é medicar todas as crianças. Entenda o que está por trás dessa
medida
Marília de Lucca (novaescola@atleitor.com.br) (apuração) Editado por Elisa
Meirelles
Um médico americano foi notícia
recentemente ao propor que todas as crianças com problemas de comportamento e
baixo rendimento escolar tomassem remédios indicados para o tratamento do
Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (TDAH), mesmo que
sem terem sido diagnosticadas com o transtorno. Por mais absurda que a teoria
seja, já está se formando uma corrente de profissionais que acreditam nela e o
tema tem ganho espaço dentro e fora dos Estados Unidos.
Quem apoia a medida argumenta que o esforço e o investimento na Educação das crianças são ineficientes, muito trabalhosos ou excessivamente custosos. A saída mais prática e rápida, então, é usar medicamentos que, alterando a atividade neuroquímica dos estudantes, controlem suas atitudes e domem seus impulsos.
Quem apoia a medida argumenta que o esforço e o investimento na Educação das crianças são ineficientes, muito trabalhosos ou excessivamente custosos. A saída mais prática e rápida, então, é usar medicamentos que, alterando a atividade neuroquímica dos estudantes, controlem suas atitudes e domem seus impulsos.
Por trás dessa atitude descabida está
a discussão sobre o que são problemas de comportamento - que podem e devem ser
debatidos dentro da escola - e o que são questões médicas, que demandam
acompanhamento profissional e, em alguns casos, o uso de medicamentos.
Nem toda criança agitada ou que não se concentra em classe é hiperativa ou tem déficit de atenção. Muito pelo contrário. Na maioria dos casos, trata-se de características comuns a essa etapa da vida. O entusiasmo, a vontade de se fazer presente no mundo, a energia que precisa ser aplicada em experimentações e brincadeiras fazem parte da aquisição de conhecimento. É papel dos pais e das instituições de ensino prover às crianças momentos apropriados para correr, gritar, conversar, fazer bagunça. Elas precisam de situações em que descansem a mente e cansem o corpo para que, quando chegar a hora de ter concentração para aprender, isso não seja maçante e sofrível.
Quando se nota que grande parte de uma turma está inquieta, improdutiva ou indisciplinada, mais do que ir atrás de remédios, é hora de repensar a maneira como as aulas estão sendo organizadas. Uma sugestão para entender as dificuldades e necessidades dos alunos é abrir um espaço de diálogo. Com isso, sugestões interessantes sobre a disposição do horário das atividades, os assuntos de interesse da maioria da classe e as maneiras de abordá-los podem ser colocadas em debate. A abertura faz com que as crianças entendam que têm voz e de que são diretamente responsáveis por seu processo de aprendizagem.
É importante, também, que a escola propicie reuniões entre os docentes e com especialistas em psicopedagogia para esclarecer dúvidas dos professores com relação à indisciplina. Atitudes como essa ajudam a fortalecer a relação aluno-professor por meio da aproximação e do respeito.
Isso não quer dizer, é claro, que não existam crianças que precisam de apoio médico. Com uma análise cuidadosa da turma - aliada a conversas com as famílias -, é possível identificar quem tem mais dificuldade de concentração e avaliar se é uma questão de disciplina ou se pode ser algo a mais. Geralmente, as crianças que apresentam TDAH não são hiperativas apenas durante as aulas, mas em outros ambientes e durante o sono. O estímulo do cérebro nunca para. Assim, ela dorme mal, tem pesadelos, cai da cama. Se houver a desconfiança, é hora de procurar ajuda profissional.
Nem toda criança agitada ou que não se concentra em classe é hiperativa ou tem déficit de atenção. Muito pelo contrário. Na maioria dos casos, trata-se de características comuns a essa etapa da vida. O entusiasmo, a vontade de se fazer presente no mundo, a energia que precisa ser aplicada em experimentações e brincadeiras fazem parte da aquisição de conhecimento. É papel dos pais e das instituições de ensino prover às crianças momentos apropriados para correr, gritar, conversar, fazer bagunça. Elas precisam de situações em que descansem a mente e cansem o corpo para que, quando chegar a hora de ter concentração para aprender, isso não seja maçante e sofrível.
Quando se nota que grande parte de uma turma está inquieta, improdutiva ou indisciplinada, mais do que ir atrás de remédios, é hora de repensar a maneira como as aulas estão sendo organizadas. Uma sugestão para entender as dificuldades e necessidades dos alunos é abrir um espaço de diálogo. Com isso, sugestões interessantes sobre a disposição do horário das atividades, os assuntos de interesse da maioria da classe e as maneiras de abordá-los podem ser colocadas em debate. A abertura faz com que as crianças entendam que têm voz e de que são diretamente responsáveis por seu processo de aprendizagem.
É importante, também, que a escola propicie reuniões entre os docentes e com especialistas em psicopedagogia para esclarecer dúvidas dos professores com relação à indisciplina. Atitudes como essa ajudam a fortalecer a relação aluno-professor por meio da aproximação e do respeito.
Isso não quer dizer, é claro, que não existam crianças que precisam de apoio médico. Com uma análise cuidadosa da turma - aliada a conversas com as famílias -, é possível identificar quem tem mais dificuldade de concentração e avaliar se é uma questão de disciplina ou se pode ser algo a mais. Geralmente, as crianças que apresentam TDAH não são hiperativas apenas durante as aulas, mas em outros ambientes e durante o sono. O estímulo do cérebro nunca para. Assim, ela dorme mal, tem pesadelos, cai da cama. Se houver a desconfiança, é hora de procurar ajuda profissional.
Os riscos de medicar
indiscriminadamente as crianças
Não se pode, em hipótese alguma, dar
remédio a alguém sem um diagnóstico claro. O TDAH só pode ser atestado por um
médico, após avaliar a criança e conversar com professores e familiares. A
análise deve ser criteriosa. Não se pode acreditar em um profissional que faz
um check-list do aluno em poucos minutos e ele já sai com uma receita de
remédio tarja preta. É preciso que psiquiatras, pediatras, professores e pais
enxerguem que a saúde dos estudantes está nas mãos deles.
Medicar as crianças indiscriminadamente, como está sendo proposto nos Estados Unidos, é uma irresponsabilidade. Um remédio errado, tomado por um período extenso, pode afetar física e mentalmente os pacientes. No caso do medicamento para TDAH, que é um neuroestimulante, é possível que a pessoa tenha alternações no desenvolvimento da concentração, do foco e da disciplina. O resultado pode ser uma dependência, não química, mas social de remédios para que o indivíduo se mantenha controlado e comportado.
Medicar as crianças indiscriminadamente, como está sendo proposto nos Estados Unidos, é uma irresponsabilidade. Um remédio errado, tomado por um período extenso, pode afetar física e mentalmente os pacientes. No caso do medicamento para TDAH, que é um neuroestimulante, é possível que a pessoa tenha alternações no desenvolvimento da concentração, do foco e da disciplina. O resultado pode ser uma dependência, não química, mas social de remédios para que o indivíduo se mantenha controlado e comportado.
Vale lembrar ainda que a escola não
trabalha com laudos, mas com alunos. Não é aceitável basear-se em um laudo
médico para ensinar mais ou menos a uma criança. Todos têm direito à Educação e
quem precisa da ajuda de um medicamento não pode ser taxado como "aquele
garoto ou garota que toma remédios e que, portanto, não é capaz de
aprender".
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Ao mestre com carinho
Ao mestre com carinho
Compus esta hipercrônica com uma seleção
das minhas citações preferidas sobre educação e sobre o transcendente papel do
professor na preparação das gerações futuras. Mais que uma homenagem, é uma
forma que encontrei para expressar minha gratidão.
A todos os meus professores,
“Se a Educação sozinha não transforma a
sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” (Paulo Freire)
“Educar é crescer. E crescer é viver.
Educação é, assim, vida no sentido mais autêntico da palavra.”
(Anísio Teixeira)
(Anísio Teixeira)
“A sociedade e cada meio social particular
determinam o ideal que a educação realiza.”
(Émile Durkheim)
(Émile Durkheim)
“O indivíduo é social não como resultado de
circunstâncias externas, mas em virtude de uma necessidade interna.”
(Henri Wallon)
(Henri Wallon)
“O principal objetivo da Educação é criar
pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que as
outras gerações fizeram.”
(Jean Piaget)
(Jean Piaget)
“Nós nos tornamos nós mesmos através dos
outros.”
(Lev Vygostky)
(Lev Vygostky)
“A tarefa do professor é preparar
motivações para atividades culturais, num ambiente previamente organizado, e
depois se abster de interferir.”
(Maria Montessori)
(Maria Montessori)
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.”
(Paulo Freire)
(Paulo Freire)
“Só existirá democracia no Brasil no dia em
que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da
escola pública.”
(Anísio Teixeira)
(Anísio Teixeira)
“Se você acha que educação é cara,
experimente a ignorância.”
(Derek Bok)
(Derek Bok)
“A educação é a arma mais poderosa que você
pode usar para mudar o mundo.”
(Nelson Mandela)
(Nelson Mandela)
“O essencial, com efeito, na educação, não
é a doutrina ensinada, é o despertar.”
(Ernest Renan)
(Ernest Renan)
“A educação é um seguro para a vida e um
passaporte para a eternidade.”
(Antonio Guijarro)
(Antonio Guijarro)
“Ensinar é um exercício de imortalidade,
que de alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o
mundo pela magia da nossa palavra, sendo que, desse modo, o professor não morre
jamais, estando a cada dia no pensamento daqueles a quem ensinou.”
(Rubem Alves)
(Rubem Alves)
“Educai as crianças, para que não seja
necessário punir os adultos.”
(Pitágoras)
(Pitágoras)
“Feliz aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina.”
(Cora Coralina)
(Cora Coralina)
“Ninguém é tão grande que não possa
aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.”
(Esopo)
(Esopo)
“A educação é para a alma o que a escultura
é para um bloco de mármore.”
(Joseph Addison)
(Joseph Addison)
“Educar não é encher um cântaro, mas sim,
acender uma chama.”
(William Yeats)
(William Yeats)
Convido meus queridos leitores a postarem
suas citações prediletas e com isso completar essa singela homenagem...
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ignorância.Marcos Bagno
Liberte a Criança!
Mais do que encher as crianças de presentes e de balas, poderíamos
aproveitar esse dia para uma reflexão profunda do lugar que a criança ocupa em
nossa sociedade. Precisamos urgentemente promover a abolição da escravatura
da criança.
Explico. A criança não tem voz, não tem querer, não tem direito a falar
nada, a escolher nada. Sob a tutela do adulto, que ao invés de lhe estimular a
autonomia, o crescimento, a vontade própria, só deseja dela uma única virtude:
obediência.
A escola é um local de formatação obrigatória das mentes para a
obediência em massa, para a sujeição do espírito a um programa medíocre,
empobrecedor, em que todas as crianças devem se comportar da mesma maneira,
aprendendo as mesmas coisas sem sentido para elas, da mesma forma, ao mesmo
tempo, com o mesmo resultado. O principal que se ensina na escola é a
competição entre os alunos, a necessidade de obedecer regras que não se sabe
quem fez e para quê, a atitude de silêncio e não questionamento. Os conteúdos
são esquecidos e passam. O comportamento imposto é para a vida.
As crianças são pessoas criativas, curiosas, sensíveis, amorosas, plenas
de senso de justiça. Após o massacre sofrido por anos na escola, elas se tornam
adolescentes apáticos, desinteressados, fechados e desiludidos com o aprender e
o viver. A escola, coadjuvada pelos pais, mata a pessoa gradativamente;
arranca-lhe toda capacidade perguntadeira, toda sensibilidade, e embota o
raciocínio com um amontoado de conteúdos sem nexo, sem finalidade, que ao final
do vestibular, a maioria de nós esqueceu completamente.
Esse processo tem começado cada vez mais cedo e cada vez de maneira mais
feroz. Tenho uma amiga muito querida que trabalha na educação infantil em
Santos e está enfrentando uma perseguição absurda porque se rebelou contra o
fato das professoras colocarem crianças de 2, 3, 4 anos de castigo, infringindo
aliás o Estatuto da Criança e do Adolescente – que proíbe que a criança sofra
humilhação e constrangimento. Dizem as professoras – com o apoio da direção e
da coordenação – que as crianças foram colocadas “para pensar”! Uma criança de
3 anos “pensando” num canto da sala!! E todo mundo acha que isso é normal, que
faz bem, que “impõe limites”. De início, já estamos transformando o ato da
reflexão num castigo. Segundo, estamos com isso arrancando a dignidade da
criança, que sempre tem de estar em posição de submissão e obediência ao
adulto. O caso dessa minha amiga foi levado para a Secretaria de Educação e ela
não foi apoiada. Foi posta para fora da sala de aula, por tirar uma criança do
castigo!
E o que querem as crianças? Correr, brincar, explorar, fazer fluir sua
intensa energia. E o que querem os professores, a escola, o governo, os pais?
Fazer com que elas fiquem quietinhas, caladinhas, em fila, obedientes, fazendo
atividades que os adultos planejaram, geralmente pobres e desinteressantes.
O que querem as crianças? Perguntar, saber, apalpar a vida, beber a
existência, abrir-se para o mundo… O que querem os adultos? Que elas se
enquadrem, quanto mais cedo melhor, num sistema de vida em que ficar calado,
não questionar, não criticar, não ser livre é a única opção.
A consequência disso já estamos assistindo: para submeter as novas
gerações, cada vez mais inquietas e não sujeitas a esse tipo de domesticação, é
preciso usar de meios mais poderosos de contenção – mais autoritarismo e agora
temos os remédios que ajudam a manter a criança submissa. Outra amiga minha,
que trabalha numa Ong, recebe encaminhamento de professoras da educação
infantil para médicos e psicólogos porque “elas só querem brincar”, “não param
quietas”… Que coisa! Crianças querendo brincar! Isso é um crime ou uma doença!
Temos de reprimi-las rapidamente!
No final da educação infantil, agora temos a provinha Brasil, mais um
instrumento de enquadramento da infância e um empenho em tornar já a educação
infantil um processo de escolarização massacrante, que antes só começava mais
fortemente aos 7 anos. Terem passado o primeiro ano para 6 anos é outro sintoma
de enquadramento cada vez mais precoce da infância nos parâmetros formatadores
da escola. Tenho um sobrinho de 6 anos que já está fazendo “provas”, para meu
desgosto absoluto.
Depois disso tudo, vemos alunos querendo bater em professores e as
pessoas se espantam, querem chamar a polícia (aliás já chamaram até para
crianças de 3 anos)… quando o que acontece e vai acontecer cada vez mais é que
este modelo de imposição promovido pela escola gera apenas duas atitudes
possíveis: apatia ou revolta. O estado que se estabelece na escola tradicional
é um estado de guerra permanente: os professores tentando conter, disciplinar,
submeter, obter estudo entediante e compulsório. Os alunos tentando escapar
pela divagação, pelo sonho, pela revolta – mais tarde, pode até ser pela droga
e pela violência (dependendo das condições familiares e sociais).
Quem assistiu ao maravilhoso filme “Educación Prohibida” poderá
constatar que crianças que vão a escolas livres, onde são respeitadas,
estimuladas, tratadas como seres pensantes e sensíveis e não como números
submissos, têm um desenvolvimento harmonioso, bonito, rápido. Não há violência,
guerra, escapismo, onde há liberdade, amor, escolha, estímulo. Onde educadores
e educandos têm cumplicidade, amizade, não há risco de violência, conflitos e
desrespeito. Eu trabalhei 15 anos em escolas particulares e públicas, em São
Paulo e no interior, com crianças desde 2 anos até adolescentes. Nunca um aluno
me desrespeitou. Só recebi entusiástico afeto, porque só semeei intenso afeto
por elas e respeito como pessoas com vontade e pensamento próprio. Nunca fiquei
nas salas dos professores, falando mal dos alunos e escolhendo alguns para
serem os bodes expiatórios da escola: os tais alunos-problemas, rotulados, com
diagnóstico inapelável de “sem solução”. Ao invés, esses foram sempre os que
mais me interessaram e com quem criei mais profundo vínculo. Porque geralmente
são os que mais se rebelam contra o sistema.
É claro que teremos assim professores frustrados, doentes, esgotados. É
um esforço hercúleo tentar submeter o tempo inteiro a energia vital, a ânsia de
autonomia das novas gerações e impor-lhes o remédio amargo de conteúdos
prontos, pasteurizados, desinteressantes, de uma lousa sem graça, de um prédio
cinza. (Outra amiga minha que dá aula numa escola de periferia em São Paulo no
Ensino Fundamental chorou ao me contar que um dia um aluno, que tinha um pai
preso, lhe disse olhando em volta da sala: “Prô, você já viu que a nossa escola
é igual a uma prisão?”)
Alguns professores se rebelam, querem outra coisa, mas são tragados pelo
sistema, como essa minha amiga acima. Outros sucumbem à depressão, têm que sair
fora, para poderem se tratar. Mas muitos estão convencidos de que deve ser
assim mesmo – são instrumentos inconscientes da opressão da infância e do
adolescente. Adotam o discurso do autoritarismo, sem perceber que também eles
se tornam uma peça de um sistema, em que eles próprios não têm querer, não tem
respeito, não são valorizados. Esses são aqueles que vão passar esses e-mails
irritantes, querendo criminalizar o “desrespeito” dos alunos aos professores ou
admirando o sistema oriental de “educação”, onde o indivíduo vale menos ainda e
está sendo treinado para a obediência absoluta ao sistema.
Enfim, estou aqui transbordando minha extrema indignação com o que a
sociedade, a escola, a família, fazem com as crianças. Elas precisam de espaço
vital, de espaço para brincarem, aprenderem por si mesmas, explorarem a vida!
Precisam de espaço mental, para pensarem, discordarem, perguntarem, serem elas
mesmas – cada uma com sua riqueza singular!
A criança é um ser subversivo ao sistema estabelecido. Ela questiona,
ela inquieta, ela pergunta, ela tem uma energia transbordante, ela não se
enquadra em parâmetros. Por isso, querem matá-la o quanto antes e transformá-la
num adultozinho bem comportado e estudioso, calado e obediente. Assim, será
mais fácil fazer desse ser humano uma peça descartável num sistema político,
social e econômico que não valoriza a pessoa, mas apenas o lucro, o poder e o
consumo.
Semear a
escola de lírios e jasmins,
Caramanchões
de flores,
Caminhos
perfumados...
E
árvores, muitas árvores,
Dessas
sob as quais podemos nos abrigar do sol,
Daquelas
que podemos subir e comer os frutos,
E ainda
as que podemos abraçar e sentir a seiva da vida.
Semear a
escola de crianças correndo
De
crianças sorrindo
De
crianças perguntadeiras, de olhos brilhantes,
De
crianças inventadeiras, dessas que inventam moda,
Dessas
que querem sempre mais,
Que nunca
param, que nunca se conformam....
Semear a
escola de pessoas felizes,
De
educadores amorosos, entusiastas, carismáticos,
Desses
que gostam de se sentar no chão,
De contar
histórias, de tocar violão,
De
brincar na terra e de plantar no coração.
Daqueles
que têm ainda nos olhos uma criança perguntadeira,
Daqueles
que querem saber de tudo e nunca acham que sabem tudo.
Quando a
escola for esse jardim,
Me chamem
para nela habitar
E o mundo
terá virado um lugar
Semeado
de paz
Dora Incontri
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O Caso Impressionante De Carly Fleischmann
O Caso
Impression ante De Carly Fleischman n
A mente humana
ainda é o maior de todos os mistérios, mesmo para aqueles que dedicam toda a
vida ao seu estudo. Psiquiatras, psicanalistas e psicólogos quase nada sabem
realmente a seu respeito e trabalham muito mais baseados em hipóteses e dúvidas
do que em conhecimentos e
certezas. É impressionante verificar como os humanos podem saber tão pouco
sobre algo que eles mesmos possuem e usam diariamente: a sua mente.
Autismo é um
transtorno global do desenvolvimento. Trata-se de uma alteração comportamental
que afeta a capacidade de comunicação dos indivíduos. Algumas crianças,
apesar de autistas, apresentam inteligência e fala intactas,
outras apresentam sérios retardos no desenvolvimento da linguagem. Alguns
parecem fechados e distantes, outros presos a comportamentos restritos e
rígidos padrões de comportamento. Certos adultos autistas são capazes de ter
sucesso na carreira profissional. Porém os
problemas de comunicação e sociabilização frequentemente causam dificuldades em
muitas áreas das suas vidas.
Tratamento
O autismo é um
transtorno que nunca desaparece completamente, porém com os cuidados adequados
o indivíduo se torna cada vez mais adaptado socialmente. Intervenções
apropriadas iniciadas precocemente podem fazer com que alguns indivíduos
melhorem de tal forma que os traços da doença ficam imperceptíveis para aqueles
que não conheceram o desenvolvimento desses indivíduos.
O sucesso do
tratamento depende não só do empenho e qualificação dos profissionais
responsáveis, mas também dos estímulos feitos no ambiente familiar. Quanto mais
a família souber sobre o tratamento do autismo, melhor para o desenvolvimento
global dos pacientes – de modo geral, crianças.
O caso
impressionante
Carly Fleischmann era uma menina
autista, incapaz de se comunicar com o mundo exterior. Pelo menos isso era o
que se pensava a respeito dela, até que completou 11 anos da idade, quando algo
impressionante aconteceu. Algo realmente extraordinário, envolvendo uma
garota diagnosticada como deficiente mental. Uma coisa que pode ajudar a
esclarecer o mistério desse transtorno tão desafiador para a ciência humana.
Nascida em Toronto,
no Canadá, quando ela completou dois anos de idade, ficou claro que não
acompanhava o desenvolvimento da sua irmã gêmea. O pai de Carly, Arthur
Fleischmann, comentou: “Quando dizem a você que sua filha tem
um atraso mental e que, no máximo atingirá o desenvolvimento de uma criança de
seis anos, é como se você levasse um chute no estômago.” Ele e sua
esposa receberam o diagnóstico de autismo para Carly e esperaram pelo pior.
Desesperança
As duas filhas
gêmeas caminhavam em direções opostas. Os primeiros anos de Carly foram
terríveis. Parte desses atrasos mentais a impediam de andar e até de sentar. Carly
estava perdida em seu próprio mundo. Os pais faziam tudo o que podiam para
ampará-la. Desde os 3 anos, as terapias eram intensivas e sem interrupção. Eram
40 a 60 horas de terapia semanais. De três a quatro terapeutas trabalhavam com
a menina diariamente e, quando os pais não viam resultados em uma certa
abordagem terapêutica, logo procuravam outra. Eles nunca desistiram da filha,
pelo contrário, conversavam com ela, estimulavam-na, olhavam-na no fundo dos
olhos e diziam poder enxergar a inteligência dela.
Mas, se havia
realmente inteligência em Carly, como explicar do seu constante balançar, dos
braços agitados e das birras constantes? E ela não conseguia falar nada! Jamais
poderíamos esperar que ela tivesse comunicação com o mundo exterior. O perfil clínico
dela era o de uma criança com autismo severo e moderado retardo mental. Alguns
amigos diziam a Arthur: “Veja, você está gastando milhares de dólares
com todos esses tratamentos, sem nenhum resultado!” Era fácil pensar
que interná-la era a melhor alternativa. Mas Arthur insistia: “Como um
pai e uma mãe podem desistir da sua própria filha?”
O inesperado
Os progressos de
Carly, ao longo de meses e anos, eram lentos e frustrantes. Até que um dia,
quando ela tinha 11 anos, foi até o computador e fez algo totalmente
inesperado. Algo que quebrou para sempre o silêncio do seu mundo secreto. Ela
estava muito agitada e escreveu a palavra DOR. Em seguida escreveu AJUDA e
saiu correndo para vomitar no banheiro. Os pais de Carly perguntaram a uma das
terapeutas da menina o que ela achava do ocorrido. Ela respondeu que aquilo
demonstrava que havia muito mais coisas acontecendo na mente da garota do que
eles podiam imaginar. Para Arthur e sua esposa foi um momento extremamente
marcante. Eles nunca tinham ensinado palavras a Carly e muito menos a
digitá-las no computador. Eles mal podiam acreditar no que acontecera, pois ela
nunca tinha escrito nada antes.
Expectativa
Todos estavam
ansiosos e esperavam que ela voltasse a escrever alguma coisa no computador.
Mas Carly recusava-se a escrever novamente e exibia os mesmos comportamentos
estranhos que levavam a pensar em retardamento mental. Decidiram então adotar
uma estratégia: se Carly desejasse alguma coisa, teria que digitar no
computador, para conseguir. Se quisesse saber alguma coisa ou ir a algum lugar,
teria que digitar, sem a ajuda de ninguém. Meses depois, ela recomeçou a
escrever. Ela entendeu que, se comunicando, tinha poder sobre o ambiente que a
cercava. E as coisas que ela escrevia eram impressionantes! Por exemplo: “Sou
autista, mas isso não me define. Conheça-me, antes de me julgar. Sou bonita,
engraçada e gosto de me divertir. Ela explicava também os seus
comportamentos estranhos. Bater a cabeça, por exemplo. “Se eu não bater
a cabeça, parece que vou explodir”. Tento não fazer isso, mas não é como
apertar um botão ” –ela escreveu certo dia. “Eu sei o que é
certo e errado, mas é como se eu lutasse contra o meu cérebro o tempo todo.” Ela
não escondia seus desejos e frustrações: “Eu queria poder ir à escola
como uma criança normal, mas não quero que fiquem com medo de mim, se eu bater
na mesa ou gritar. Eu gostaria de apagar esse fogo dentro de mim” –
ela digitou.
Finalmente, alegria
Arthur ficou
radiante por poder, finalmente, se comunicar com a filha. Ele declarou: “Parei
de olhar para ela como uma pessoa incapaz e passei a vê-la como uma adolescente
sapeca!”. Junto da sua irmã gêmea, é fácil considerar Carly como
mentalmente comprometida, mas somente até perguntar alguma coisa a ela. Por
exemplo, uma das terapeutas lhe perguntou: “Por que os autistas tapam
os ouvidos, balançam as mãos e fazem sons estranhos?” Ela
respondeu imediatamente: Ӄ a nossa maneira de drenar a entrada
sensorial que nos sobrecarrega. Nós criamos ‘outputs’ (saídas) para bloquear
‘inputs’ (entradas de informações)” O cérebro de Carly se
sobrecarrega com sons, luzes, sabores e aromas. Ela explica: “Nossos
cérebros são conectados de forma
diferente. Nós absorvemos muitos sons e conversas ao mesmo tempo e isso, às
vezes incomoda. Eu tiro centenas de fotos de uma pessoa quando olho para ela.
Por isso, é difícil ficar olhando para alguém durante muito tempo.”
Coisas incríveis
Arthur diz: ”Nesses
dois anos em que temos nos comunicado com ela, ela nos disse coisas
impressionantes, coisas que nos deixam perplexos, tipo ‘Querido papai, adoro
quando você lê para mim. Sei que eu não sou a menina mais fácil de cuidar deste
mundo, mas você está sempre me dando força, Te amo.’ Eu perderia todas as
minhas noites de sono para ouvir isso, gastaria todo o nosso dinheiro
simplesmente para ouvir isso.” Alguém perguntou a Arthur o que foi
que Carly escreveu que mais o deixou emocionado. “Você não faz ideia
como é ser assim como eu. Eu queria que, pelo menos por um dia, você pudesse
ficar dentro do meu corpo.” – ele respondeu.
Atualmente, Carly
está escrevendo um romance, tem um blog, usa o twitter e
responde as perguntas de muitas pessoas. Ela agora sabe que tem uma voz que
pode ajudar outras crianças e olha para si mesma como alguém que pode marcar o
mundo e mudar muitas vidas. Ultimamente, ela postou a seguinte mensagem: “O
que posso dizer a todos é que NÃO DESISTAM. Suas vozes internas encontrarão
saída para tudo. A minha encontrou!”
Assista ao vídeo: http://youtu.be/M5MuuG-WQRk
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