Nada escapou ao olhar
detalhista de Drummond em suas crônicas. Custo de vida? Tem. Escola de samba,
carnaval e futebol? Tem. Viagem à lua, briga de vizinho, guerra, paz,
brotinho de miniblusa e velhinho de bengala? Tudo isso também tem.
Praticamente, não há tema do dia-a-dia que não tenha freqüentado as crônicas
do poeta.
Aqui, ele trabalha com o tema do bebê de proveta, do ser humano feito em laboratório. A crônica em versos "O Novo Homem" foi publicada no Jornal do Brasil em 17/12/1967 — portanto, 35 anos atrás. A genética nem estava tão avançada assim e Drummond já discutia e ironizava a idéia do ser humano "fabricado", com bebês à la carte, escolhidos num catálogo. O NOVO HOMEM
O homem será feito
em laboratório. Será tão perfeito como no antigório. Rirá como gente, beberá cerveja deliciadamente. Caçará narceja e bicho do mato. Jogará no bicho, tirará retrato com o maior capricho. Usará bermuda e gola roulée. Queimará arruda indo ao canjerê, e do não-objeto fará escultura. Será neoconcreto se houver censura. Ganhará dinheiro e muitos diplomas, fino cavalheiro em noventa idiomas. Chegará a Marte em seu cavalinho de ir a toda parte mesmo sem caminho. O homem será feito em laboratório, muito mais perfeito do que no antigório. Dispensa-se amor, ternura ou desejo. Seja como flor (até num bocejo) salta da retorta um senhor garoto. Vai abrindo a porta com riso maroto: "Nove meses, eu? Nem nove minutos." Quem já conheceu melhores produtos? A dor não preside sua gestação. Seu nascer elide o sonho e a aflição. Nascerá bonito? Corpo bem talhado? Claro: não é mito, é planificado. Nele, tudo exato, medido, bem-posto: o justo formato, o standard do rosto. Duzentos modelos, todos atraentes. (Escolher, ao vê-los, nossos descendentes.) Quer um sábio? Peça. Ministro? Encomende. Uma ficha impressa a todos atende. Perdão: acabou-se a época dos pais. Quem comia doce já não come mais. Não chame de filho este ser diverso que pisa o ladrilho de outro universo. Sua independência é total: sem marca de família, vence a lei do patriarca. Liberto da herança de sangue ou de afeto, desconhece a aliança de avô com seu neto. Pai: macromolécula; mãe: tubo de ensaio e, per omnia secula, livre, papagaio, sem memória e sexo, feliz, por que não? pois rompeu o nexo da velha Criação, eis que o homem feito em laboratório sem qualquer defeito como no antigório, acabou com o Homem. Bem feito. |
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Drummond: 100 anos
Carlos Machado, 2002
Carlos Drummond de Andrade
In Caminhos de João Brandão (publicado originalmente no JB, 17/12/1967) José Olympio, 1970 © Graña Drummond |
O NOVO HOMEM
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Linda homenagem ao poeta!!beijos,chica
ResponderExcluirMuito futurista o poeta Drumond. Perfeito e acertou em tudo. O ser de proveta já existe e faz tudo o que ele previu que faria. Genial esse Drumond, além de seu tempo em tudo!
ResponderExcluirOlá, querida amiga Zilda
ResponderExcluirNão é que ele já tinha razão há 100 anos???
Acabou-se o homem...
Bjs de paz e bem
Que maravilha de poesia e muito atual, estamos caminhando a este mundo...
ResponderExcluirBeijo Lisette.
Lindo...
ResponderExcluirBom feriado.
Bju
Obrigada Toninha.Bjss
ExcluirOi Zilda amiga,como vai??? Que lindeza de post!!! O meu lindo merece toda as homenagens!!Também o homenageei.Aliás, que "poema você é de Drummond"? Eu deixei um teste no meu blog.
ResponderExcluirSe você quiser saber tá lá.:)
Um beijo e parabéns pelo belo post!
Bom te ver senadora!!Bjss
ExcluirAmei! Que homem sábio esse Drumond hein...rsrsrs. Apaixonei pela cor dos seu óculos, seu sorriso é lindooo!!!
ResponderExcluirbeijos, Jaque
Obrigada amiga,pela presença e pelo carinho.Bjsss
ExcluirUm passo à frente! Drummond se adiantou!Dez anos antes de nascer o primeiro bebê, ele já falava dele!
ResponderExcluirbeijos, Zilda!
bom final de semana
Um texto sábio escrito há tanto tempo: grande Drummond! Grande Zilda que o escolheu para postar!
ResponderExcluirBeijocas, querida!
Drummond, escreve com imensa facilidade, sabendo jogar bem com as palavras.
ResponderExcluirZilda, agradeço as suas palavras gentis no Blog da Soninha,(Patchwork) e sua visita em meu blog forma sempre amável.
Bom fim de semana.
Beijos.
Élys
Drummond, esse foi um grande sábio! Muita paz!
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