Esta crônica retrata na íntegra nossos desencantos e a melhor forma de encará-los.Lembrar sempre(inclusive eu) que o amor sozinho não basta.Precisamos de uma boa dose de carinho,respeito,lealdade,compreensão,capacidade de perdoar de verdade,tolerância,diálogo,indulgência,verdade,amizade e muita,muita sabedoria
RELACIONAMENTO
RUBEM ALVES
FOTO:MEU FILHO FÁBIO EDUARDO E FAMÍLIA
Depois de muito meditar sobre o assunto
concluí que, os casamentos (relacionamentos) são de dois tipos: Há os
casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol.
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me.
Para começar, uma afirmação de Nietzsche com a qual concordo inteiramente.
Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria, capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice”?
Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.
Sheerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme “O Império dos Sentidos”.
Por isso, quando o sexo já estava morto na cama e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites.
O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fosse música.
A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.
Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ”Eu te amo...”
Barthes advertia: “Passada a primeira confissão, “eu te amo” não quer dizer mais nada. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética”.
Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua “cortada”, palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar.
O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo.
Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.
Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.
Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras.
Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão...
O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento.
Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.
O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor...
Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.
Explico-me.
Para começar, uma afirmação de Nietzsche com a qual concordo inteiramente.
Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria, capaz de conversar com prazer com esta pessoa até sua velhice”?
Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar.
Sheerazade sabia disso. Sabia que os casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme “O Império dos Sentidos”.
Por isso, quando o sexo já estava morto na cama e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites.
O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fosse música.
A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.
Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: ”Eu te amo...”
Barthes advertia: “Passada a primeira confissão, “eu te amo” não quer dizer mais nada. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética”.
Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.
O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua “cortada”, palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar.
O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo.
Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca.
Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.
Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre. E o que errou pede desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras.
Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada.
Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão...
O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento.
Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.
O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor...
Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim...
RUBEM ALVES é educador, escritor, psicanalista e professor emérito da Unicamp.
Minha gratidão às queridas amigas do já famoso grupo "ERRES",pela oportunidade de rever meus conceitos pasados,presentes e futuros;Rever meus erros e acertos.Bjs amadas!!!!
ResponderExcluirMto lindo!
ResponderExcluirZilda, boa tarde. Eu participei da blogagem do encanto, mas não fiz do desencanto. Prefiro não recordá-los. Obrigada por sua amizade. Fé que chegará nos 1000. Um bj Regina.
ResponderExcluirOlá Zilda, amei a postagem. Rubem Alves é sensacional.As metáforas que ele utliza são geniais. :) Em um outra crônica,"As Razões do Amor" que trabalhei certa vez com meus alunos,ele diz que "os místicos e os apaixonados concordam que o amor não tem razões. Vá entender... Já Drummond dizia que o amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Mas isso é coisa de apaixonados, né não? :)
ResponderExcluirObrigada pelo convite. Passei minutos agradáveis aqui.
Um beijo, amiga .
Olá, querida Zilda
ResponderExcluir"Tu és o orvalho que me beija"...
(Meliss)
Em pleno período pascal nos reencontramos para tecer o nosso Desencanto... entrelaçar partilhas de coração a coração...
Vou usar um chavão... Posso???
Fechou com chave de ouro!!!
Menina... ar-ra-sou!!!
Fui lendo, avidamente, com o intuito de ver o fim do jogo...
Não tive a menor dúvida: meu papai jogou frescobol e a mãe: tênis...
Mas ficaram casados 56 anos... mesmo assim... Vejo que o amor não tem definições exatas... ele é impreciso... se aplica em alguns casos e para outros, não...
Mas, o Amor tudo suporta... e no fim, Deus dá o melhor final pra cada história humana mesmo que não seja o que almejávamos tanto!!!
Vc foi feliz demais ao optar pelo Rubem Alves para exemplificar o que falou sobre o Desencanto... Espetacular!!!
Vibrei daqui e precisava disso, no dia de hoje, para me recompor de uma virose que me fez ficar dois dias de cama...
Obrigada por sua participação e nos vemos no próximo mês se Deus quiser!!!
Bjs de Paz e Esperança junto com o meu carinho fraterno
"Meu coração orvalhado
pleno de gratidão,
agradece a Deus"...
(Élys)
zILDA,escolha perfeita!Um texto maravilhoso e verdadeiro!Sem dialogo não existe casamento!bjs e boa semana!
ResponderExcluirSábio texto! Eu li pouquíssimo Roland Barthes, mas tudo que consegui entender eu gostei muito. No meio do texto tem uma frase dele:“Passada a primeira confissão, “eu te amo” não quer dizer mais nada..." resume tudo para uma relação duradoura. E a comparação que Rubem fez entre modos de casamentos: tênis ou frescobol foi perfeita. Usando uma linguagem coloquial, o bate bola é imprescindível. Abraço.
ResponderExcluirZilda um relacionamento com frescobol é sem dúvidas o melhor, mas tenho visto muitos tênis por aí.
ResponderExcluirO texto é maravilhoso e sua escolha para essa blogagem foi perfeita.
Xerosssssssssss
Oi querida!
ResponderExcluirVim retribuir a visita e acabei por refletir com esta postagem maravilhosa!
O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor...
Lindo de mais!!!!
Beijos!
Zilda querida, que lindo post! E é tão verdadeiro, né? As comparações são perfeitas.
ResponderExcluirNão é fácil conviver a dois, principalmente se amor não for suficiente p/ se sobrepor aos obstáculos e adversidades... Fico pensando por quanto tempo o amor resiste e não se deixa levar pelo cansaço...
Beijos e boa quarta,
Telma
(www.acessoriosbytelma.blogspot.com)
Oi Zilda!
ResponderExcluirQuanto desencanto provoca um jogo de tênis!
perfeita a analogia e o texto aqui presente. Muito pertinente.
Beijinhos!
Oi Zilda,
ResponderExcluirQue interessante a comparação. Bom perceber que faço do meu casamento seja sempre como o frescobol, rsrsr.
Há quem queira sempre ser maior em um relacionamento mesmo...ou veste uma máscara, para tirá-la após a união, causando decepção, desencanto.
Vim retribuir a sua visita na primeira fase e desculpar-me por só agora poder retribuir. Estive com uma conexão ruim e tempo corrido, deixando de visitar os blogues participantes da blogagem.
Um abraço
Oi Zilda.
ResponderExcluirQue belo este texto amiga, não conhecia, embora adoro este escritor. Que exemplo ele nos dá, gostei muito, bjs.
Oi Zilda,
ResponderExcluirgenial o texto de Ruben Alves.
Perfeita a comparação do tennis e fescobol com as duas formas de "jogar" o amor a dois.
Termino os comentários em beleza. Sua participação fecha com chave de ouro a 2ªfase.
Beijinhos além-mar.
Rute
Oi Zilda, que bom que você passou no meu blog e me deu a oportunidade de ler o seu post. Rubem Alves é genial. Você me deu a oportunidade de uma leitura prazerosa e que fecha muito bem a ideia da 2 fase da blogagem coletiva. beijos! ;))
ResponderExcluirZilda, adorei o texto. Um grande beijo.
ResponderExcluirMuito divertida essa crônica que veio para tirar um certo peso do tema.
ResponderExcluirObrigada por sua participação! A blogagem não seria um sucesso os participantes não acatassem a ideia. Sigamos que lá vem outra fase!! (rs*)
Beijus,
Cara Zilda,
ResponderExcluirque maravilhoso texto de Rubem Alves partilhou connosco!!!!!!
Um grande abraço para ti!
Jorge Vicente
Olá Zilda
ResponderExcluirSua postagem sobre Amor aos Pedaços, está muito bem bolada. O amor é sempre, em qualquer situação, um jogo.
Obrigada pelo desejo de recuperação.
Beijo
Maria Luiza (Lulú)
Obrigada Marcela!!Bjsss
ResponderExcluirBoa tarde, tudo bem?
ResponderExcluirHoje tirei um tempinho para visitar as amigas blogueiras e vim desejar um ótimo fim de semana pra vc, bjs
Olá Zilda !!!obrigado por me seguir.Seu blog é bem diferente.Obrigada pela dica.1000 bjs!!!!
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