A Implosão da Mentira
(ou o episódio do Riocentro-fragmentos)
Fragmento 1.
Mentiram-me. Mentiram-me ontem
e hoje mentem novamente. Mentem
de corpo e alma, completamente.
E mentem de maneira tão pungente
que acho que mentem sinceramente.
Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente.
Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases
falam. E desfilam de tal modo nuas
que mesmo um cego pode ver
a verdade em trapos pelas ruas.
Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.
Affonso Romano Sant'Anna
Implosão da Mentira
(ou o episódio do Riocentro-fragmentos)
Fragmento 2.
Evidente/mente a crer
nos que me mentem
uma flor nasceu em Hiroshima
e em Auschwitz havia um circo
permanente.
Mentem. Mentem caricatural-
mente.
Mentem como a careca
mente ao pente,
mentem como a dentadura
mente ao dente,
mentem como a carroça
à besta em frente,
mentem como a doença
ao doente,
mentem clara/mente
como o espelho transparente.
Mentem deslavadamente,
como nenhuma lavadeira mente
ao ver a nódoa sobre o linho.Mentem
com a cara limpa e nas mãos
o sangue quente.Mentem
ardente/mente como um doente
em seus instantes de febre.Mentem
fabulosa/mente como o caçador que quer passar
gato por lebre.E nessa trilha de mentiras
a caça é que caça o caçador
com a armadilha.
E assim cada qual
mente industrial? mente,
mente partidária? mente,
mente incivil? mente,
mente tropical?mente,
mente incontinente?mente,
mente hereditária?mente,
mente, mente, mente.
E de tanto mentir tão brava/mente
constroem um país
de mentira
-diária/mente.
Affonso Romano Sant'Anna
Nota encontrada no s(a)ite considerado confiável:
* Este poema foi recitado na voz de Tônia Carrero no CD "Affonso Romano de Sant'Anna por Tônia Carrero" da Coleção "Poesia Falada"
http://www.revista.agulha.nom.br/aromano.html
*
Vide: Fragmento 3. , Fragmento 4. e Fragmento 5.
Affonso Romano Sant'Anna
In: Poesia Reunida L&PM, v.2
Poema publicado no JB em 1984,
quando do episódio do Rio Centro
e em diversas antologias do autor.
IMAGEM: Fotosurrealista de Salvador Dali
Parabéns, Zilda. Seu trabalho aqui lembra o dos que fazem ecdótica, ou estabelecimento de texto para edição crítica.
ResponderExcluirRelevantes serviços vêm sendo assim prestados por você, discretamente.
Mas o esforço não há de ser vão.
Aos poucos, ele vem conquistando a merecida visibilidade na blogosfera.
Renderá frutos maduiros, no devido tempo.
Se Deus quiser.
Parabéns, amiga.
Beijos
Zilda sempre em nome da verdade. Por isso sempre aprendemos muito ao ler teus temas.
ResponderExcluirPrazerzaço sua presença meu querido amigo neo-orkuteiro!Obrigada e beijo no coração.
ResponderExcluirObrigada Antonio pelo carinho de sempre,Beijão.
ResponderExcluirZilda!
ResponderExcluirSempre nos trazendo um texto expressivo.
Beijão!
Seu texto é uma reflexão de ótima qualidade.
ResponderExcluirAbraços...Fique com Deus.
Obrigada Mariano.Bjs.
ResponderExcluirValeu Dora!Bjs
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